Queria que vc entendesse as entrelinhas do meu olhar.
Os espaços vazios das minhas palavras.
As letras soltas das conversas escritas
e todas as vogais e consoantes pronunciadas.
Queria que vc entendesse o meio sorriso
as conversas fora de hora
a insistência de te procurar na festa
só pra te pedir esqueiro
para acender o meu cigarro.
Queria que vc me encontrasse,
dividisse uma conversa, ou uma cerveja,
e nos beijassemos a noite inteira.
............renatamar.....................
terça-feira, outubro 31, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
brilhantes lembranças transformadas em belas palavras.
acendi seu cigarro, bebi da sua cerveja, beijo-te docemente e ganho uma saudade que aperta o peito.
atenção nas entrelinhas é meu norte .. o bonde, o vento, o tempo e a vida passam, mas bons momentos ficam.
ou seriam belas lembranças transformadas em brilhantes palavras??
vi teu rosto agora
Segunda chance*
Quando eu te conclamo, tenho meus motivos.
O mundo era obra inacabada e a gente queria carregar tijolos, fazer as paredes do bem, erguer os diques para que os rios fossem para irrigação dos desvalidos e não para o mar, onde o baronato enchia iates de champagne e sexo.
Aqueles megafones, piquetes em todas as portas, as passeatas com apitaço, o papel picado caindo dos prédios.
Eram os anos roucos, dos gritos de alerta.
E tudo foi perdendo a graça e nós descobrimos a mentira.
E aí, fomos ser felizes!
E nós, no meio daquela praça de guerra, só queríamos a paz de um beijo, o desejo da fusão substancial e a revolução da verdade.
Queríamos que a verdade pesasse sobre o sonho, até que ele capitulasse. Simplesmente, desabastecido, ele capitulasse.
A única transgressão que nos interessava não era legal e nem era atenuada por ser legítima. No banco da praça, propriedade pública encampada às avessas, queríamos sabotar, com cascas de banana, os caminhos da direita e da esquerda.
Éramos tão egoistas que brincávamos de cronometrar beijos, quebrar recordes sul-americanos de trocas de chiclete mascado, enquanto o mundo, na imaginação de alguém, estava ardendo em brasa e precisava ser mudado.
Naquela praça, onde as andorinhas fervilhavam no verão, o coletivo era glamour, tudo que era plural era superior.
E a auto-suficiëncia que nos embriagava não "atrapalhava nosso amor", como diziam os convencionais. Nos bastávamos e tudo o que era coletivo nos parecia excëntrico. Quando pensávamos iguais, o banco da praça ficava desconfortável. A divergëncia nos divertia. Como tanta gente pode pensar tão igual sobre tanta coisa?
E se havia tédio, havia beijo, mãos-nada-bobas, havia sussuros e arrepios. Nada de passeatas, livros ou idéias dos outros para preencher este tal vazio burguës.
A injustiça do mundo já havia sido tema de algumas conversas rápidas entre um beijo e outro.
Achávamos que a injustiça do mundo era a soma de pequenas injustiças, debeláveis com pequenas tenacidades e pequenas ações.
Naquele banco de praça, em que resistíamos contra toda sorte de patrulhas, nossa resignação prevalecia e daquela simplicidade serena iam brotando todas as soluções, os problemas iam perdendo gravidade como se estivessem dançando frevo na Lua.
Até que um dia nos engasgamos com gás lacrimogënio e um amasso que parecia promissor foi interrompido pela cavalaria colérica.
O habitat do nosso amor se tornou o habitat da nossa dor.
E como não tínhamos a frieza de uma ideologia, fomos tomados pela emoção, depois pela ilusão, depois pela decepção.
E nunca mais voltamos a praça com a singeleza do princípio.
Somos, nela, passantes apressados.
Às vezes juntos, às vezes separados.
Às vezes pensando no coletivo, às vezes pensando na sobrevivëncia, mantendo nosso único elo com o mundo, a vida.
E nosso banco está lá.
Os magotes desapareceram.
Acho que a praça pode até ferver de novo, mas se eu te conclamo, tenho meus motivos.
Estamos mais duros e resistentes.
Temos mais argumentos agora.
É tempo de serenar e ser feliz.
E eu te conclamo, meu amor sereno.
* Passageiras Agonias
por Geração Playmobil
Postar um comentário