segunda-feira, maio 08, 2006

O encanto do Uirapuru

"Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa do grande cacique. Como não poderia se aproximar dela, pediu à Tupã que o transformasse em um pássaro. Tupã o transformou em um pássaro vermelho telha, que à noite cantava para sua amada. Porém foi o cacique que notou seu canto. Ficou tão fascinado que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru vôou para a floresta e o cacique se perdeu. À noite, o Uirapuru voltou e cantou para sua amada. Canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto."


.. já faz um dia que eles se despediram. Ela ainda guarda na boca palavras soltas. A despedida foi sem olhares demorados, sem garantias, sem graça. Um beijo roubado no canto da boca, meia volta e nenhuma palavra que traduzisse a sintonia, a sincronia, o desejo insaciado. Comprometidos, os laços da distância apertam os nós. As palavras e as movimentações discretas não preencheram a vontade. Nessas horas a sensação é de saudade do que não existiu completamente.

Durante o último encontro ele segredou o desejo de tê-la. Foi dito baixinho ao pé do ouvido.. os olhos faiscaram, seus rostos se cruzaram, suas bocas se aproximaram.. mas alguém resistiu. Em que pensavam? Se desconheciam..

Agora fazem algumas horas que ele vôou. Nada mais pode acontecer.. Além das palavras soltas e secas na boca ela sente uma imensa vontade de se tocar. Deseja as mãos, a pele, os olhares, os cabelos, o cheiro do 'passageiro' . Ouve sua voz repetindo: fazer amor com você!

Navegam devagar os dedos pela nuca, de tão excitada ela sente o calor que ele provocava. Sob a penumbra avermelhada da sala, fecha os olhos, se encosta no sofá.. movimenta o corpo levemente num ritmo empolgante, como se dançasse ao som de sua imaginação . Sem vergonha ! As mãos percorrem o contorno do corpo. Os sons se confundem dentro e fora de si. Ela sorri devagar e escancaradamente sentindo um gozo profundo e intenso.

Se sente mais leve. Gosta de se imaginar. Passeia nua pela casa. Se aproxima da janela. Observa o céu, o brilho das estrelas, o caminho das nuvens, o movimento dos planetas. De tão plena ouve o barulho do mar lá longe.. por algum tempo esquece dele. Talvez já seja o tempo passando .. e as horas encarregadas de levar as lembranças fazem a sua parte ..

Na madrugada quando deitou a cabeça sobre o travesseiro pode ouvir o som do vôo do pássaro noturno indo para longe, voltando para casa - e sonhou que ele também tem o desejo de lhe reencontrar de alguma forma.

3 comentários:

Anônimo disse...

Los reencuentros siempre que sean por pasión, son deseados, soñados...
Muy bonito, me encantó.
Un beso, Helena.

Bruno Cave disse...

Muito boa! essa lenda sensual despertou-me aromas...
Bjs

Anônimo disse...

Noooosssa! Arrepiozinho..........................................................