sábado, junho 30, 2007

"Não vale uma fisgada dessa dor ..."

Um desespero prende meus pés e crava garras em meu ventre e dói em mim uma dor de expulsão, uma dor de parir um rio de pedras e lâminas. Não há mais cômodo em minhas entranhas para esse tanto de anzóis e berços, esse ofício de flagelo e ânsia. Te ponho à boca meu último naco de carne, te limpo os olhos com os lábios ungidos de todos os beijos, suplico que me livres do jugo dos meus pesares e teu sorriso sempre bordado de pêsames me arremessa contra a matilha faminta da loucura.
.:: Ticcia
porque sim, entendo o significado de abandono e desapego. desconfiei do amor e voltei pra casa por uns dias. por hora meu corpo está desabitado e o que sinto é um misto de alívio e inquietação. desejo afastar estes dias e carregar as lembranças daqui. estou com fome de braços e saudades de mim.

quinta-feira, junho 28, 2007

O meu amor me ensinou a partir.

Os versos mudaram a direção
ora leve e constante
ora tropegos e sonolentos.
Os versos encontraram o rumo
desta rua iluminada
deste túnel armado.
Os versos seguiram em frente
no caminho do vento
no caminhão dos pensamentos.

:: renatamar ::

A inquietação tornou-se um estado da alma, a dor adormeceu o corpo e a tristeza o fez dormir. (Cássia Pires)

terça-feira, junho 26, 2007

doRémifá ...

Há sempre um nariz de palhaço
anunciando a graça,
almofadas coloridas mostrando o caminho,
fitas e bolinhas espalhadas.
Tem sempre Alegria como visita
Solidariedade como companhia
Felicidade atrás da porta.
Tá sempre Amor erguindo
Saudade partindo
e Prosperidade surgindo.

.... -- ... renatamarr .... -- ...

domingo, junho 24, 2007

Como uma foto antiga amarelada, assim amanheci

(...) quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles - Arte de ser feliz

segunda-feira, junho 18, 2007

morre aquilo que não posso conversar?

Fabrício Carpinejar

o que é tão insonoro assim?
preferes negar para não existir?
porque não contar essa surpresa nova?
porque não ri deste medo?
porque você se esconde de mim
se do meu lado
cresce a tua outra face?
eu não quero te prender
já estamos unidos.

renatamar

terça-feira, junho 12, 2007

assim seja

...
teu cheiro sândalo.
tua pele pitanga.
teus lábios canela.

renatamar

segunda-feira, junho 11, 2007

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adelia Prado

ouço jambos caindo nas madrugadas.
uma grande solidão encontra
algumas mulheres com livros nas mãos.
são senhoras que lêem rosa.
meninas que lêem nietzsche.
fêmeas que lêem dostoiévski.

como ser outra se jamais se sabe o que se é? além da névoa e da noite, o que existe?
a um ciúme amendoado estamos presas.
o que faz de nós porcelana e estrume?
ímã e tarântula?
qual homem ainda amar? Aquele que é veludo e não adaga?
algumas mulheres já nasceram grutas.
por isso escrevem, maternais e cúmplices.
nas tardes de carnaval.

o que uma mulher procura em outra, além da ternura?

antigos medos se enfileiram.
hálitos e árias se confundem.
a felicidade é um pássaro de asas curtas e desejos molhados.

o que nos faz diabólicas
ísis, helenas, electras, medusas, medéias?

inocentada pela delicadeza uma fina chuva cai.
enumero coisas perdidas:
serpentinas, ciladas, armadilhas.
e a lágrima primeira.
quase esquecida.

Marize Castro

tão logo anoiteceu a ampulheta anunciou as 9 LUAS .

quinta-feira, junho 07, 2007

Sempre a primavera, nunca as mesmas flores.

Cássia Pires
Todo homem ajuda a despir a mulher, todo homem tem pressa pela nudez, todo homem é ansioso pelo sexo, pelo seio, pelo corpo aquecido pela mão, como é solícito o homem para tirar a blusa, a tirar a saia, a tirar as meias.

Nem precisa pedir, ele já veio. Não se perde. Não se atrasa em seu próprio sangue.

Entende que a alegria é uma tristeza assustada. Entende que a tristeza é uma alegria calma. Alegre triste, triste alegre.

Para despir, o homem faz tudo certo, tudo exato, tudo educado e incisivo, tudo preocupado e generoso, é capaz de conversar cada assunto até o fim, mesmo que não goste. É capaz de conversar calado. Caso o homem amasse com a mesma vontade que tira as roupas da mulher.

Todo homem pretende se aventurar no declive, no recuo, na bondade do cheiro.

O homem nasceu para a recompensa, o sexo é sua recompensa, quer ser premiado pelo sexo, premido pelo sexo, não se duvidar pelo sexo, envaidecer-se pelo sexo. O homem acelera o zíper, desliza o pescoço como um fecho. Abre os braços em gola. Debrua a linha.

Do frio ao figo, do figo ao fogo, do fogo ao filho, sem retorno. Não tem certeza se vive ou morre, mas não deixa de avançar.

Desenrola a trama, destranca a porta, destrança as redes com cuidado noturno. Solta os cabelos dela: duplica-se na ternura.

Aprendemos a descolar o sutiã com o estalo de dois dedos, a puxar a calcinha com os pés, a beijar e soprar ao mesmo tempo, a dizer luxúria como se fosse simples, abafar a voz para gemer mais rápido. Fazemos no escuro, fazemos de olhos vendados, fazemos de costas, fazemos com os dentes. Se necessário, somos facas, somos forcas, somos fracos.

Não subestime, somos exercitados a espiar com as unhas. Não há vestido que nos pregue peças. Não nos assusta o inverno e suas camadas de lã e suas camadas de básicas e suas camadas de segunda pele. Não nos incomoda a legging, as botas, os casacos com botões internos. Não pediremos explicações, não há mistérios que não sejam treinados. Enquanto beijamos, desvestimos. Enquanto passeamos, seguimos, obedientes, o novelo.

O homem é preparado para arrancar as roupas, para veranear no quarto. Para escutar o mar pelo vento das venezianas. O homem é a febre, o desejo infantil de ter logo, de ser logo, de não esperar o próximo assobio, o próximo ônibus, o próximo pensamento.

Natural e comum o homem que ajuda a despir a mulher. Raro é o homem que ajuda a mulher a se vestir depois.

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, junho 06, 2007

Quisera ele tivesse percebido: a rua era ladrilhada de saudade


Te dou a poesia que não fiz
porque não sabia como dizer.
Toma isso que não sei de mim
e todos os meus 'sins'.
Te dou meu vazio
pra você preencher - ternura!
Te dou meus olhos sem mentiras de dor.
Te dou minhas palavras soltas,
minhas frases feitas e meu texto pronto.
Te dou meus pensamentos altos
e o silêncio de meus gestos.
Te dou meus seios para sua boca.
Te dou meu ventre pra perpertuar tua vida.
Toma , leva, minha alma pra você explorar
que eu te dou o meu amor pra você guardar
e fico com essa solidão que é pra não atrapalhar.

... renatamar ...

terça-feira, junho 05, 2007

sede em frente ao mar

Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.

Caio Fernando de Abreu

segunda-feira, junho 04, 2007

Depois se ser flor, antes de ser fruta

Dez dias de espera
desespera
digo péra,mas dispara.

Espero, mas dispara
dizes pára
e desespero,mas espero.

Dez por um segundo
dizes pára o mundo
dispara e espera
o desespero.

Diz pára
para o desespero
dispara e digo:
espero.

:: Iagê ::

porque esse amor de poema foi feito para uma amiga linda. e porque eu tenho entendido de desespero e espera esses dias.

domingo, junho 03, 2007

To find someone you love | You gotta be someone you love

não se chega ao fim com palavras. o fim são repetidas ausências, carências. o fim é o começo do novo. a outra possibilidade. o fim é tanto sim como não. o fim é tudo quando não se espera nada. o fim é o esquecimento natural. o fim é a espera sem demora. o fim é fruta madura pronta pra se devorar. o fim é não dar importância às palavras.

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cuidar da dor. sarar o peito. lavar com lágrimas. dissipar... deixar arder. curar. permitir levar. pra agora, só cansar de sentir.


....... renatamar